Mãe temporária, você conhece?

CONHEÇA A PROFESSORA DE SC QUE JÁ FOI ”MÃE” 35 VEZES:

Na casa de Joenir Lopes, 66, no município catarinense de São Bento do Sul, quase não há mais espaço para fotos. É por meio delas que ela guarda a lembrança dos 35 “filhos” que já teve.

Sim, isso mesmo: Joenir já foi “mãe” 35 vezes. Em uma delas, a convivência durou apenas uma noite. Em outras, até um ano e meio. Dois irmãos estão aos seus cuidados hoje —mas também deverão se despedir dela em breve.

Há 12 anos, a professora aposentada recebe temporariamente em sua casa crianças que foram vítimas de abandono e de violência doméstica.

Lá, ficam aos cuidados de Joenir até que ocorra uma nova decisão da Justiça. A iniciativa, ainda pouco conhecida no Brasil, é chamada de “acolhimento familiar”.

“É como um papel de mãe. Sou responsável pela saúde, educação… tudo”, explica ela, que tem a ajuda do marido para cuidar dos pequenos. Não só do marido: uma equipe técnica, formada por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, também acompanha o processo.

Hoje, 372 municípios brasileiros têm programas de famílias acolhedoras, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Social, que normatiza o serviço. Embora a maioria se concentre no Sul e Sudeste, parte do serviço já se espalha em outras regiões.

Em São Bento do Sul, a iniciativa, considerada uma alternativa aos abrigos, existe desde 2002 —o que faz de Joenir uma das “mães” temporárias mais experientes do município, ainda que não assuma a alcunha: para evitar confundir a criança, que pode voltar à família biológica ou ir para uma família adotiva, prefere ser chamada de “tia”.

Mas diz se sentir realizada da mesma maneira. “Às vezes, fico pensando: não sei ficar sem essas crianças, porque aprendo muito com elas. Hoje, vejo a vida de forma diferente”, conta.


MÃE EXPERIENTE, MÃE RECENTE

Mesma sensação teve Edna*, 41, em outro ponto do país. Foi por uma propaganda ouvida no rádio, enquanto dirigia, que ela soube do Sapeca, programa de acolhimento familiar em Campinas (SP).

Não tinha filhos e sempre quis, de alguma forma, fazer algo para ajudar –ainda que por pouco tempo. Cadastrou-se como “acolhedora” e passou por entrevistas, seleção, cursos e meses de treinamento.

De lá para cá, dois bebês já passaram pelos seus cuidados. O último, Eduardo (nome fictício), acompanhou por quase um ano, até que ele se recuperasse de graves problemas de saúde.

Agora, brinca que está “grávida” do próximo.

“Foi uma surpresa. Vi que sou capaz de amar alguém que não saiu de mim e que sou uma leoa com as crianças. Três horas da manhã, o bebê com febre, você nem pensa: corre para o hospital.”

Essa correria toda, no entanto, assustou os amigos. A maior dúvida: e depois que a criança for embora?

Mãe que é mãe, mesmo temporária, sofre. Mas se recupera. É o que a experiência de Joenir garante: “A gente tem saudades, chora porque a casa fica vazia. Mas fica contente porque encontram uma família.”

*A pedido do Sapeca, o sobrenome não foi divulgado.

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