“A vida para quem acredita não é passageira ilusão, e a morte se torna bendita porque é nossa libertação.” Esse trecho de uma música cantada em nossas igrejas traduz o sentimento que deve tomar conta de nós na celebração do Dia de Finados. É um dia especial que dedicamos à memória dos que nos antecederam e terminaram sua missão neste mundo. Acreditamos, pela fé, que suas vidas estão em Deus e por isso fazemos eco ao conselho de Santo Agostinho: “Saudade sim, tristeza não.”
São Francisco de Assis também via a morte de forma muito serena e tranqüila, a ponto de, em seu “Cântico das criaturas”, louvar o Senhor pela “nossa irmã a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Felizes os que ela achar conforme a tua santíssima vontade.”
A experiência da morte é dolorosa, ninguém pode negar. Todos lamentamos a perda de um ente querido, pois sua ausência deixa um vazio em nossas vidas. Mas também conseguimos, à luz da Palavra de Deus, vislumbrar um sentido que alivia nossa dor e nos enche de esperança. Pois como afirma a Liturgia, “para os que creem, a vida não é tirada, mas transformada; e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.”
Consolam-nos também as palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê, ainda que esteja morto, viverá.” (Jo 11, 25) E em muitas outras passagens do Evangelho, Jesus não só ensina a doutrina da ressurreição, mas nos encoraja e anima a viver essa esperança. Mais ainda: para nós cristãos, a ressurreição de Jesus é a garantia da ressurreição da pessoa humana. O apóstolo São Paulo advertia os cristãos de Corinto: “Como podem alguns entre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram. (1Cor 15, 12-14.20)
Rezar pelos que já faleceram: esse é outro convite da celebração de Finados. Já no Antigo Testamento, o segundo livro dos Macabeus ensina que “o Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis.” (2Mc 7, 9) E o mesmo livro, em outra passagem, afirma que é “santo e salutar pensamento orar pelos mortos.” (2Mc 12, 46). O costume de rezar pelos mortos se baseia na doutrina cristã que afirma que existe um estado de purificação, depois da morte, chamado Purgatório. “Os que morrem reconciliados com Deus, mas carregando faltas, misérias, dívidas espirituais por pecados cometidos, necessitam se purificar para que possam entrar no Reino de Deus, que é o reino da santidade perfeita.” Por isso a Igreja pede que, exercendo a solidariedade espiritual, rezemos pelos nossos mortos, para que sejam purificados de suas faltas e possam contemplar, de forma plena e definitiva, a face amorosa de nosso Deus. Por isso oferecemos orações e missas “em sufrágio das almas do purgatório”.
A celebração do Dia de Finados também nos convida a refletir na transitoriedade e na relatividade dessa vida terrena. É bom fazermos uma pausa na correria de nossos projetos, na busca insaciável de muitos bens, para lembrarmos que a vida tem um valor que transcende essa realidade terrena e nos projeta para uma dimensão divina que já vivemos neste mundo quando nos colocamos a serviço dos valores do Evangelho, quando nos empenhamos na construção do Reino de Deus, “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz.”
Luiz José Forti é professor e membro da
Assessoria de Comunicação da Diocese de Piracicaba